Andar de bicicleta tem cheiro
De mato verde e terra molhada
É algo assim corriqueiro, diga-se de passagem,
Parece uma coisa banal sair por aí pedalando,
Mas uma coisa é certa:
Nenhum dia é igual ao outro,
Os mesmos lugares se pintam diferentes,
O vento a ventar na cara da gente
Faz um bem da gota serena!
Eu ganho o mundo a cada pedalada,
Escuto pássaros e um bater de cancelas se abrindo
A me levar a algum lugar, a um verde perto.
E o coração ainda mais se excita
Quando a gente voa de bicicleta.
E dá pra sentir o interior das cidades, ruas, trilhas
E caminhos que viram um leque
De acordes a louvar Deus,
Entre realidade e sonho, repleto de cheiros e ruídos.
Dá para sentir o aroma do capim, do jenipapo maduro,
A alma de flor a evolar, em dádivas antigas,
O jasmim e as damas da noite.
O rescender amadeirado das folhas secas
Das mangueiras e dos cajueiros,
O néctar das flores silvestres,
O arisco odor do mel do riacho...
De onde será que advêm tantos
Cheiros a ativar o cérebro?
Recordações de verdade deságuam, brotam
Quando caem as primeiras chuvas...
Cheias do céu, águas encharcam a terra seca
E, levantando vapores, me levam
Por léguas e léguas às lonjuras.
Interessante, mas quando presencio
Uma chuva que acabou de cair,
Passo a viajar por dentro do cheiro
Dos potes de barro com água,
Que ficavam no quintal
Da casa da minha avó Dalila.
Pode fazer muito tempo,
Mas é como se fosse agora, a me ninar
Nesse pedalar de ideias
Que me leva a inspirar bons ares.
(Quando ando de bicicleta,
Não só meus pés giram…
De cabeça feita,
Claro que deixo o coração circular).
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