Bate, rebate, mão-de-pilão!
ânimo do braço e da lida,
utensílio rústico e potente,
com humilde e valorosa força
quebras milho e mandioca
amassas grãos em farinha,
como chamar-te preguiça,
se, para nós, fazes pão,
se entre uma leva e outra
vais esmurrando a canjica?
Mão-de-pilão a apisoar,
separas a palha do grão,
soca que socas
a triturar nó encruado,
despolpar e repisar, amiúde,
sem piedade nem dó,
a moer pedras de sal,
refinar cristais de açúcar mascavo,
fazer mistura, bolos e paçoca,
polvilho de tapioca, beiju e grudes;
laboras e gemes sua bronca
não descansas sua sina,
com ânimo vais pilando sonhos
aos acordes calejados,
vais afastando os males
e curando as espinhelas caídas;
descascando incansável
o que em nós curte o tempo
o que se esvai ou estanca,
o que prossegue estocado
o que prossegue estocado
transformado em pó,
longe que vais, longe da cantiga
além do sol da manhã
que se levanta a bater adiante
e chega manso, de repente,
entardecido na soleira da porta
nessa toada mão-de-pilão
que ecoa seca na alma e na carne,
e fica a fazer tantã, titi-ti, tata-tá!
a tocar bem lá no cerne
na massa da cabeça da gente.
na massa da cabeça da gente.