Na casinha da minha avó Dalila
que ficava lá no vale da Várzea das Acácias,
eu gostava de visitar o quintal
só pra vê-la cultivar sua horta
eu gostava de visitar o quintal
só pra vê-la cultivar sua horta
como quem cuidava de um tesouro.
Ela conversava com tomates, sorria às cebolas,
Acenava um bom dia às pimentas e aos cravos,
puxava um papo de chegar ali a babar
com as ervas-doces, camomilas e louros.
cumprimentava até os mamoeiros, as fêmeas
e os machos; e via que os machos só davam flores.
Ela conversava com tomates, sorria às cebolas,
Acenava um bom dia às pimentas e aos cravos,
puxava um papo de chegar ali a babar
com as ervas-doces, camomilas e louros.
cumprimentava até os mamoeiros, as fêmeas
e os machos; e via que os machos só davam flores.
Junto do verde perto havia jarras bojudas
cheias a sobejar água fresca
E uma tina de argila queimada
remendada de cimento nas bordas
mas que nunca ficava estanque de água potável.
cheias a sobejar água fresca
E uma tina de argila queimada
remendada de cimento nas bordas
mas que nunca ficava estanque de água potável.
Era ali onde minha avó Dalila
lavava as roupas e tomava banho de cuia
beirando a bica d'água
beirando a bica d'água
que vinha do açude do Calango.
Nunca me esqueço de lembrar
quando chegava à altura
quando chegava à altura
de umas e outras plantas se acasalarem,
dava para beber o cheiro
das flores dos mamoeiros
das flores dos mamoeiros
que tomava conta do ar da polinização.
E era tanto o aroma de fecundação
que dava gosto tocar na terra fertilizada.
E eu me embebia desses cheiros de brisa
que vinha até à cama de junco da minha avó,
que dava gosto tocar na terra fertilizada.
E eu me embebia desses cheiros de brisa
que vinha até à cama de junco da minha avó,
atravessava as frestas das janelas
e entrava insidiosamente no meu nariz.
Que ares mais puros!,
que cheiro bom!, que cheiro forte!,
que cheiro bom!, que cheiro forte!,
que cheiro único!,
magníficos cheiros de húmus e mato
magníficos cheiros de húmus e mato
que continuo a guardar no olfato,
que nunca saíram de mim
mesmo depois da despedida
daquela senhora franzina tão poderosa,
que tinha coragem nas veias
e me fez entranhar no espírito
esses benditos cheiros e ruídos da terra!
Dá até pra senti-los ainda agora!
Veja como é que pode uma coisa dessas!
Tanto assim que me concentro nessa poesia,
que me enleva alto, longe e dentro, consentido,
inebriado, atrevo-me a evolar em perfumes
junto à brisa da tarde amena
que fica suavemente a me ninar.
que nunca saíram de mim
mesmo depois da despedida
daquela senhora franzina tão poderosa,
que tinha coragem nas veias
e me fez entranhar no espírito
esses benditos cheiros e ruídos da terra!
Dá até pra senti-los ainda agora!
Veja como é que pode uma coisa dessas!
Tanto assim que me concentro nessa poesia,
que me enleva alto, longe e dentro, consentido,
inebriado, atrevo-me a evolar em perfumes
junto à brisa da tarde amena
que fica suavemente a me ninar.