O poema todo se esparrama,
Se esfarela, quebra a massa podre
Gasta saliva, fere a língua, enrosca
Leva cuspe, chute, tiro, tapa na cara,
O poema enverga e empena, transfigura
Mas escapa bem apanhado a tempo
Passado a ferro e a fogo em brasa
Se transforma, se amolda, se liberta
Do idiota que o prende
e o tortura sem trégua
O poema não é bula nem placebo,
Apesar de vezes parecer remédio
Mas ante o culto do paliativo
Moribundo, cala-se em coma
Mas se cura por se achar antídoto.
Diante dos arremedos
da lida não se entrega,
Em face de mostrar a cara a gosto
E, diante dos fatos, mostrar a língua
Escancarando às brochuras do medo
Arredando o tédio que mata à míngua,
O poema renasce após descer
ao quinto dos infernos
Levando mil anjos e demônios na garupa
Mas, diante da impermanência das coisas,
Do desassossego ao desgoverno,
brota, aflora e sobrevive,
O poema não se preocupa, desde logo
Passa a ser eterno.
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