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domingo, 8 de março de 2015

INFINITA VARZEANIDADE PLENA, Autor: João Maria Ludugero

 
 

 
 
 
 
 

INFINITA VARZEANIDADE PLENA,
Autor: João Maria Ludugero

Sem sombras de dúvidas, ao Vapor,
Bem apanhado, completo e contemplativo,
Tenho certeza que devo ser uma espécie
de eterno menino João maduro Ludugero:
não tenho medo nenhum de andar, a correr dentro
e a voar alto nas profundezas da varzeanidade:
Sinto-me um verdadeiro agreste em vida rasa,
sem medo nenhum da cuca esbaforida, mas se preciso for,
Nunca se meta a duvidar disso, pois sou mesmo inteiro assim
de assanhar até os pelos da venta, sem calar a voz nem apagar
meus clamores, sem cancelas desde a estrela Dalva da manhã
ao arrebol da tarde laranja sob a seara do açude do Calango...

Quero olhar hoje a ti, ó querida Várzea,
com olhos cheios de amor, ser paciente, compreensivo,
manso, destemido, irmão da coragem e prudente.
Ver, além das aparências, teus filhos,ó Várzea amada,
Assim como tu mesma os vês, e assim não ver senão
o bem em cada um, além do jasmim-manga em flor e acima
do destemido tô-fraco dos guinés ou galinhas-d'Angola!

Cerro meus ouvidos a qualquer tristeza.
Guardo minha língua de toda maldade.
Que só de bênçãos se enche meu espírito.
Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos
quantos se achegarem a mim, sintam a tua presença,
ó sagrada Várzea de Ângelo Bezerra.
Cidade da cultura revestida em singela beleza.
E que, no decorrer da minha vida, dia-após-dia,
eu te revele em Formas, Seixos, Maracujás, Umbus,
Riacho do Mel, Lagoa Comprida, Gado Bravo, Ariscos de Virgílio Pedro,
Além das quatro-bocas da rua Grande aberta a todos,
Além da verde algarobeira da Praça do Encontro Cleberval Florêncio,
Além do Recanto do Luar de Raimundo Bento,
Além da preserVARZEAção de renovadas e antigas esperanças,
Além dos beijus, das tapiocas e farinhas do Itapacurá de Tio João Pequeno
E das carregados cajueiros, mangueiras e pitombeiras lá do sítio da inesquecível Senhora Julieta, Avó de Edileusa Alves da Cunha...

Minha Várzea de São Pedro Apóstolo padroeiro, seara do Retiro de Seu Olival de dona Penha, chão-de-dentro da rezadeira Dalila Maria da Conceição, das louceiras de alguidares, potes, panelas e chaleiras feitos por dona Ana de Manoel de Anísio, das cargas, balaios e caçuás de bugigangas, dendês, favas, feijões, milhos, aguardentes-de-cana, mel de abelhas, ovos caipiras, queijos, coalhadas, farinhas e cocadas das redondezase recantos do interior trazidos por Seu Zé Borges de dona Di...

Ainda agora que as vozes não silenciaram nem os clamores se apagaram,
aqui do pé da cama minha alma se eleva a Ti, para dizer: Varzeamo-te! Escrevo versos para ti, com ou sem carecer de rimas, e varzeamando-te com todas as minhas forças, ao Várzea/enaltecê-la, sem me encostar ou buscar amparos cabotinos!

Amorteço as dores da saudade que transborda em meus olhos d'água, Deposito em escritos consentidos as mãos, as fadigas da luta, sem esmorecimento, no intuito de quebrar até mesmo o pote da fantasia, libertando o coração repleto de alegrias e encantos de um futuro presente passado a limpo, dia-após-dia, ao vão da Várzea agreste de Seu Odilon Ludugero.

Se as letras ávidas me atraem, se os impulsos poéticos me dominam,
se dou lugar ao amor, à paz, à Fé sem meros entristecimentos,
persevero em minha batalha a honrar teu nome,
Ó Várzea da estimada Madrinha Joaninha Mulato!

Tenha confiança em mim. Se fui incompleto,
se pronunciei cantigas em vão, se me deixei levar
pela impacto das palavras, se fui um espinho afoito
a desolar as ervas-daninhas da seara varzeana,
perdão, ó Várzea dos Caicos!

Nesta data não quero entregar-me ao sonho
sem sentir o acordar na minha alma a segurança dessa varzeanidade,
a Tua doce cordialidade inteiramente gratuita. Várzea! Eu te agradeço, minha terna seara do boi-de-reis de Mateus Joca-Chico, porque és a sombra fresca do juazeiro que me cobriu tantas vezes durante tantos reencontros do riachão ao Retiro de Seu Olival Oliveira de Carvalho.

Eu te agradeço porque, simplesmente, carinhosa e envolvente seara
do rio Joca, bem cuidaste de mim como uma mãe, em todas suas horas.
Várzea! Ao redor de mim tudo já é silêncio e calma, apesar da saudade que se alastra em meu peito.
Envia, ó meu Supremo Arquiteto do Universo,
o anjo da paz à nossa Várzea de Ângelo Bezerra.

Escuta meus versos, sossega o meu espírito, solta as minhas tensões, inunda meu ser de silêncio e de serena varzeanidade.
Vela por mim, Deus querido, enquanto eu me entrego confiante a escrever, como uma criança que acorda contente,
tão feliz da vida em teus braços.
Em teu nome, Várzea das Acácias
de Severino 'Silva' Florêncio Sobrinho,
descansarei tranquilo, até que me chegue a vindoura eternidade.

Assim seja, minha amada Várzea de Xibimba,
irmão de Vira de Lucila de Preta, habitantes do torrão
do estimado João Redondo de Seu Pedro Calixto
e do Pastoril de Joaquim Rosendo,
das animadas festanças e quadrilhas juninas
de Seu Geraldo 'Bita Mulato' Anacleto de Souza,
das soldas e dos sequilhos de dona Carmozina,
dos bolos-pretos, beijus, tapiocas, raivas,peitos-de-moça,
puxa-puxas, línguas-de-sogra, babaus de batata-doce, sonhos,
papos-de-anjos, mungunzás, canjicas, pamonhas, paçocas,
quebra-queixos, cuscuz de milho-zarolho, papas, brotes,
babaus-de-batata-doce feitos por dona Zidora Paulino,
dos beijus, tapiocas e cocadas de dona Tonha de Pepedo,
dos siris, camarões e caranguejos dos Antonios Lunga e Rodrigues,
dos pastéis de Xinene, mãe de Picica de Cícero Paulino,
dos hibiscos-rosas dobrados, das onze-horas multicoloridas
de dona Maria Orlanda de Seu Nestor, pai do Oliveira de Alexandria,
dos jogos de dama e dominó de Seu Antonio Coelho,
das vaquejadas de Djalma Cruz e do inesquecível Reginaldo Ferreira
de Queiroz, o 'Ré da Viúva', dos papos-cabeça
de Seu Minor de dona Marina, das peladas e outros jogos
na Vargem, dos banhos e pescarias no rio Joca,
da bodega dos quebra-queixos e das rapaduras
de Seu Zé Anjo lá na rua do Arame, das gostosas merendas
feitas por dona Suzéu, Benedita e dona Maria Gomes
junto às Escolas Pe. João Maria e a Dom Joaquim de Almeida,
das tarrafas dos engenhosos e arteiros Antonios Gomes e Euzébio,
dos landuás de dona Neda a pescar graúdos jacundás,
piabas, aratanhas, muçuns e carás lá no rio de Nozinho,
dos picadinhos de dona Sinhá, das macaxeiras,
do milho-assado ou cozido de dona Alice de Abílio,
da frequência do banco de Nina em roda-de-conversa,
dos fuxicos multicoloridos de dona Neves,
do cafuné, do abraço e dos sensatos conselhos
de Dona Do Carmo, das rezas e orações de dona Onélia
de Seu Raimundo Rosas, com o fito de se achar objetos furtados
ou sumidos, das ornamentadas e benditas novenas e anjos
das noites de Maio de Nossa Senhora da Conceição, na igreja-matriz
de São Pedro Apóstolo, do constante pedalar nas bicicletas de Zé de Estevão, do circo de dona Nanuca de Palito, dos torresmos suínos
feitos com maestria por dona Rosa de Antonio Ventinha,
dos galões e litros de leite lá na casa de Seu Arnor Coelho,
bem-apanhados e distribuídos por dona Albanita 'Alba' Guimarães,
dos deliciosos bolos, pastéis, galinhadas, paçocas de carne
com cebola-roxa, farofas, grudes e caldos-de-cana do Bar de Biga,
dos pães, bolachões, biscoitos, bolachas em regalias de Zé Epifânio
lá na padaria dos faceiros pitéus do saudoso Plácido 'Nenê Tomaz'
de Lima, das eficientes e primorosas aulas das professoras
Maria 'Marica' Fernandes, Wilma e Dezilda Anacleto,
Rosa Marreiros, Terezinha Bento Ribeiro, Zilda Roriz de Oliveira;
da animada semana da cultura bem-conduzida e alinhada pela ilustre Professora Gabriela Pontes, pelos bailes e rela-buchos do Adauto do Vapor de Zé Catolé, entre as melodias 'Fernando' de Perla,
do Faro-fa-fá ao bilu-teteia do Mauro Celso, Feiticeira
de Carlos Alexandre, Asa branca de Luiz Gonzaga, do Grupo 'Tigres'
de Zé Albano a tocar a canção 'Aline' no Clube Recreativo varzeano
de Manoel de Ocino de dona Santina, da sanfona de Cícero Cego,
das sinucas de Seu Lula e de Seu Otávio Gomes de Moura, pai do Maninho, do cinema de Zé Honório de Goianinha, que vinha a Várzea passar o filme em delicadas e singelas películas de Tarzan/Jane/Chita, Ringo, Conde Drácula, Django, Faroestes Caboclos, Zorro, Durango Kid, Rin-Tin-Tim, etc...São tantas e infindas lembranças a correr dentro da Várzea das comadres Oneide Maurício de Queiroz, Hernocite e Eliete
de Pedro de dona Sinhá, terra das luzes, amanheceres e esplêndidos arrebóis de dona Carminha e da eterna Mãe Claudina, umbilicalmente ligadas à nossa possante e destemida gente varzeana, assim como
a forte e tão-bondosa Soledade (Suli) de Seu Nezinho Anacleto...Etc.


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