A canção virou hospedeira.
Quando a zoada retumba no ar
Por amperagem
Ou por mãos ágeis
De cantadores,
O corpo vira aparelho,
Alazão para a música cavalgar.
Na cacunda,
O toque da cantiga
E o sambalanço na ponta do pé.
Olho a saia rendada,
Florida,
Daquela música
Ou daquela musa
Que o timbre galopa.
A música incorpora,
De dentro pra fora
Da pele da morena,
Desafiando a serelepe dançarina.
A música é a voz dos deuses,
De onde a linguagem se achega.
Obra prima da humanidade.
O coco,
O baião,
O boi-de-reis,
O forró varzeano.
Do catimbó à macumba
O baque solto cadente se eleva,
Vira uma estrela brilhante.
Eu me engendro derretido, mas ainda apeado,
Ao som de uma toada pedindo mais alma
A um varzeano nunca prostrado ao Vapor,
E, de lá, age a dona Ana Moita
Pedindo para a moça faceira
Girar para a batida do tambor...
Não sei se a varzeana dança para o santo
Ou se o santo dança com ela aos zinabres
À margem acesa do fogo-de-chão.
A cantiga dá umbigadas nos magotes
De meninos afoitos da Cidade da Cultura,
Na roda de samba da rua reverdecida
Do beco que se alastra até ao riacho da Cruz.
É a hora do samba de lua debandar a tristeza
Da vida latente na Várzea das Acácias.
A morena estica seu feitiço
Ao redor de mim
E faz-me convidá-la
À outra dança esfuziante,
Mais solta e atrevida. Convidativa,
A música traz uma possessão
Vibracional, intensa, ávida...
Eu danço com ela, impávido.
Corajosa, ela encara a mudança
Que alavanca a vida da gente,
Diretamente alinhada
A renovar esperanças...
Eu sinto seu abraço com alegria
E desatado avanço sem alardes,
No embalo sublime dessa cantiga
Que me acerta o passo, dia após dia,
Sem nenhum preconceito da lida.
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