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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

CILA, por João Maria Ludugero


CILA,

por João Maria Ludugero.

Ficava que ficava lotada de cansaços.
Ansiava viver do seu modo,
Mas, quando menos percebia,
Estava lá a fazer tantos serviços.
Esforçava-se a agradar os outros.
E os varzeanos?
Nunca se contentavam, é claro.
Um dia, Cila virou nuvem, além do Vapor,
Foi embora nossa Amiga Otacília Marreiro,
Grandiosa Mãe de Carlos Alberto, que ficou órfão,
E de coração partido, a chorar profundamente tamanha perda.

E Otacília, disfarçada de vento, foi morar no andar de cima,
Fugiu para atrás de outros céus,
Bem além dos Ariscos dos Marreiros.

E os outros conterrâneos, que se contentassem, ou não,
Ficaram, então, sem Cila, sozinhos.
Cila, que nunca estava farta!

Cila,que jamais arredou o pé da lida,
Cila, querida Mãe, grande e bondosa Amiga de todas as horas,
Sempre a ajudar o próximo, mesmo estando de longe,
Como que ajudasse a si própria!
Quantas e tantas saudades passadas a limpo,
Ó inesquecível e querida Amiga Otacília Marreiros!
De certo, estais em paz com Deus!!!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

VARZEANIDADE ALÉM DAS QUATRO BOCAS, por João Maria Ludugero

VARZEANIDADE ALÉM DAS QUATRO BOCAS,
por João Maria Ludugero.

Então direi:
Que a varzeanidade me anima e enaltece.
Escrevendo estou, astuto ficarei feito bem-te-vizinho,
Pois a cantiga que faço é benfazeja em tantas graças.

Singelos versos calorosamente se elevam,
Se soltam fora do açude do Calango,
Vertentes cacimbas de águas agrestes,
Ávidas goteiras a verde-musgar os Seixos em limos de saudades,
Vazando de um mundo em que há raízes de verdejantes juazeiros.

Bem que direi:
Que fico contente em compor esse relicário,
Palavras sei que me exploram o coração aberto
Nesta represa em muito que me libertam...

Nem só lodos se arrastam pelo rio Joca, nem só lamas,
Nem só mulungus em flor alaranjam a tarde do Vapor,
Cajás-mangas, jacas e tantos frutos em cachos se entrelaçam
Pelo vão da Várzea dos Caicos.

Então direi,
Euforicamente renovado em esperanças nunca mudas,
Que ainda é cedo para me conter em versos derradeiros,
Não poderei viver sem dizer tudo que me faz crescer
A ganhar o mundo, a assanhar até os pelos da venta,
Sem medo da cuca esbaforida, a contemplar a Várzea
Do inesquecível e eterno menino Kleberval Florêncio!

terça-feira, 4 de agosto de 2015

ASSANHADOS VENTOS DE AGOSTO, por João Maria Ludugero

ASSANHADOS VENTOS DE AGOSTO,
por João Maria Ludugero

E mal surge o alvorecer de um novo dia,
Logo fica soprando livre, leve e solto
Em minha janela espairecida
O vento de agosto.

O vento de agosto

A chamar para a benfazeja seara
Com seu astuto e afoito bem-te-vizinho
Aquele menino João maduro Ludugero,
Sem medo da cuca esbaforida,
Sem carecer de ser cabotino,
A assanhar até mesmo os pelos da venta!

terça-feira, 28 de julho de 2015

VARZEAMAR É UM SENTIMENTO ESPECIAL, por João Maria Ludugero

VARZEAMAR É UM SENTIMENTO ESPECIAL,
por João Maria Ludugero

Não é um vai e vem ao Vapor de Zuquinha,
Varzeamar acontece de uma vez
A andar, a correr dentro e a voar alto
Sem medo da cuca esbaforida,
Feito astuto e alegre bem-te-vizinho,
A assanhar até os pelos da venta!

Varzeamar é quando você pensa:
-onde andará meu grande amor?
Varzeamar é como um milagre
De São Pedro Apóstolo,
De sentinela no topo da igreja,
Sem dar as costas para a rua do Arame.

Varzeamar é proteger o corpo
Da força dos ventos medonhos
Varzeamar é te abraçar e aos poucos
Não esquecer do tempo do carrego das pitombas
Varzeamar é sempre que te recordar em veredas,
Sentir um calor por dentro, mesmo de longe,
Varzeamar enfim é perceber teu paiol de cores
Além das quatro-bocas, além da praça do Encontro,
Além do jasmim-manga da Escola Dom Joaquim de Almeida.

Por varzeamar contaria estrelas
Sem medo de verrugas nos joelhos
E então te daria infindos abraços
Por varzeamar cruzaria Ariscos
Só pra te ter pela vida inteira feito menino.

Por varzeamar juntaria a chuva ao estio
Por varzeamar não acenderia coivaras,
Mil vezes de novo eu te reverdeceria,
Sem a necessidade de ser cabotino.

Varzeamar é quando escrevo meu nome no alto
Além do interior dos teus doces beijos agrestes
Varzeamar é quando às vezes em sonho acordo
Além dos desejos e das estrelas cadentes
Varzeamar é quando ao te ver assim benfazeja
Acredito que em meus olhos estais sempre viva
Varzeamar é pôr minha cabeça no banco de Nina
E dormir bem no colo da inesquecível madrinha Joaninha Mulato.

Por varzeamar voaria até à estrela Dalva,
E então te daria doces acordes de sonhos
Por varzeamar daria Formas aos Seixos,
Homenageando a Gabriela Pontes pela Semana da Cultura,
Sem jamais esquecer do grande poeta Deífilo Gurgel,
Amansaria qualquer Gado Bravo, a renovar esperanças,
Ganharia o mundo além dos Gravatás e das macambiras,
Alaranjaria as flores de mulungu do Maracujá ao Umbu,
Me inteirava ao contemplar os carregos de umbu-cajá,
Me acharia ao completar a colheita de jacas, cajus, cajás-mangas
Livre, solto e levado da breca pelo Itapacurá de Tio João Pequeno

Pra te ter não só por um dia, mas pela vida inteira,
Por varzeamar juntaria toda temperança disposta
Na mais singela e bonita seara de Ângelo Bezerra.
Por varzeamar eu te daria assim minha vida arteira,
Por mil vezes de novo só por sentir que minha Várzea,
Tem profundas raízes fincadas além do chão-de-dentro

Da abençoada terra do inesquecível amigo Kleberval Florêncio.

terça-feira, 21 de julho de 2015

VÁRZEA-RN: ÁVIDAS TINTAS EM LETRAS DE TANTAS E QUANTAS SAUDADES, por João Maria Ludugero

VÁRZEA-RN: ÁVIDAS TINTAS EM LETRAS
DE TANTAS E QUANTAS SAUDADES,
por João Maria Ludugero

Dia nostálgico: diapasão. Porvir de lembranças.
Um balaio. Um caçuá de saudades a correr dentro.
Amanhecer com jasmim-manga em verde-limão.
Tarde amena. Verde-musgo pelos Seixos adentro.
Maracujá. Umbu. Gravatá. Tamarindos. Jenipapos.
Mulungus alaranjados em flor.
Juazeiros do Vapor de Zuquinha.
Macaxeiras no Sítio de Zé Canindé.
São Pedro Apóstolo de prontidão
no topo da igreja-matriz,
Sem dar as costas para a rua do arame.

Roda-de-conversa na praça do encontro.
Saudades do banco de Nina de madrinha Joaninha Mulato.
Um alguidar de farofa de carne-seca, torresmo e cebola roxa.
Uma travessa de bolo-preto, raivas, soldas, carrapichos,
munguzás, peitos-de-moça, beijus, tapiocas, puxa-puxas.
Sonhos, babas-de-moça, línguas-de-sogra, grudes de goma e coco,
quebra-queixos...

Recordações da inesquecível dona Zidora Paulino
e de toda gentetão bonita e pacata
com habite-se na seara de Ângelo Bezerra...
Seja assim dona Rosa de Antonio Ventinha,
dona Sinhá, Maria de Franco,
Dona Carmozina, Seu Biga de Ana do Rego,
Rosália Fernandes, Cirineu Gomes do Rego,
Geraldo 'Bita Anacleto' de Souza, Neda, Lucila de Preta,
Sem esquecer das regalias da padaria
de Seu Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima
e das delícias ainda feitas com tanto esmero e temperança
por Marinam de Ivan de Lica de dona Chiquinha de Leopoldo,
pais de Tota da Rua São Pedro.

terça-feira, 14 de julho de 2015

EXTENSA VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
EXTENSA VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero

Não há coivara que queime minhas raízes
a raiz das minhas ideias livres e soltas
a andar, a correr dentro, a voar alto,
sem medo da cuca esbaforida ao vento.
Mas, se preciso for, escreverei poemas,
sem carecer de ser cabotino,
sou mesmo de assanhar até os pelos da venta,
porque não há morte para a varzeanidade em mim,
não há corte às asas do bem-te-vizinho...

Se ao partir meu coração agreste
morresse a luz que lhe é querida,
sem razão seria a vida varzeana,
sem razão ficaria sob o estio que seca o rio Joca,
sem razão cultivaria cajás, jacas, mangas, cajus,
sem razão haveria de florescer o mulungu
sob o encanto do destemido tô-fraco dos guinés
ou galinhas d'Angola lá no Maracujá
dos tamarindos e cajás-mangas...

Assim, nada apaga à luz que vive
a varzeamar num ávido pensamento,
porque é livre como o astuto vento
porque é livre além das quatro bocas,
porque é solta além do Vapor de Zuquinha,
porque adocica a minha paisagem, além do Riacho do Mel,
porque mergulha além do paredão do açude do Calango,
porque transborda em meus olhos d'água a saudade
advinda da Várzea da inesquecível madrinha Joaninha Mulato!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

DENTRO DA MAIS PURA VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero

DENTRO DA MAIS PURA VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero

Nunca mais esqueci da minha Várzea das acácias.
Todos os meus dias alvorecem em singelas recordações,
a andar, a correr dentro e a voar alto pelas trilhas agrestes
da seara de São Pedro Apóstolo...

E eu, tantas vezes nostálgico, tantas vezes só,
tantas vezes a me ninar ao vapor de Zuquinha,
Eu tantas vezes a ganhar o mundo e voltar ao meu lugar,
minha singela Várzea dos Caicos.
Indesculpavelmente astuto,
Eu, que tantas vezes esvoaço além das quatro-bocas,
a me achar sanhaço só a degustar o formoso mamão maduro
lá no sítio de renovadas esperanças de Dona Tonha de Pepedo.
Elevado a ter paciência para tomar banho no rio Joca,
Eu, que tantas vezes mergulhava no açude do Calango,
ora tenho enrolado os pés nas beldroegas da Vargem
de Ângelo Bezerra...

Que tenho sido João maduro, menino levado da breca,
Que tenho me espairecido ao lembrar da colheita de cajá-manga
lá no Maracujá de Dona Melizinha de Seu Wandick Lopes,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais afoito ainda;
Eu, que tenho sido varzeamado aos vetentes lajedos dos verde-musgados Seixos de dona Santina,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos aos Ariscos de Virgílio Pedro,
a colher balaios de mangas aos carregos, além de cajás, jacas, jatobás, jenipapos, seriguelas, cajus e castanhas.
Eu, que tenho feito versos em relicário de poemas agrestes,
amortecendo as dores do meu coração partido, a marejar meus olhos d'água de saudades,
Eu, que tenho sofrido a angústia por estar longe da terra da inesquecível madrinha Joaninha Mulato,
Eu observo que transbordo o peito em palavras, a exorcizar os bichos encostados .

Quem me dera ouvir de um papa-jerimum a voz do agreste
Que plantasse não um roçado, não um canteiro,
mas renovasse suas esperanças;
Que contasse, não uma estória das vividas por lá,
mas acerca do relicário de São Pedro Apóstolo!
Que me arrepiasse o coração num destemido tô-fraco daqueles de guiné ou galinha d'Angola, numa afoita cantiga pela seara dos Caicos...

Mas, não, são todos astutos, se os ouço e me falam, passo a andar, correr dentro, a voar alto além das quatro-bocas,
a assanhar até mesmo os pelos da venta, sem medo da cuca esbaforida.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi mesquinho em sua varzeanidade?
Ó varzeanos, meus irmãos,
Arre, nunca fico farto dessas relíquias!
Onde é que há gente dali que não se encante por este lugar?

De fato e por direito, então não sou só eu que esbanja amor por esta terra de Ângelo Bezerra?

Poderia alguém não a ter varzeamado,
Podem ter sido distraídos - mas esquecidos nunca!
E eu, que tenho feito meus poemas, dia-após-dia, entretido em arquivos vivos de memórias,
Como posso eu falar da minha gente varzeana sem varzeamar?
Eu, que venho sido distante, mas meu coração bate mesmo acelerado,
a transbordar de saudades, que chego a ficar de olhos marejados em lusco-fuscantes lembranças
da terra dos mulungus em flores alaranjadas e das canas-caianas e curimbatórias ao Vapor de Zuquinha?

quinta-feira, 2 de julho de 2015

DENTRO DA MAIS PURA VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero

 
 
DENTRO DA MAIS PURA VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero

Nunca mais esqueci da minha Várzea das acácias.
Todos os meus dias alvorecem em singelas recordações,
a andar, a correr dentro e a voar alto pelas trilhas agrestes
da seara de São Pedro Apóstolo...

E eu, tantas vezes nostálgico, tantas vezes só,
tantas vezes a me ninar ao vapor de Zuquinha,
Eu tantas vezes a ganhar o mundo e voltar ao meu lugar,
minha singela Várzea dos Caicos.
Indesculpavelmente astuto,
Eu, que tantas vezes esvoaço além das quatro-bocas,
a me achar sanhaço só a degustar o formoso mamão maduro
lá no sítio de renovadas esperanças de Dona Tonha de Pepedo.
Elevado a ter paciência para tomar banho no rio Joca,
Eu, que tantas vezes mergulhava no açude do Calango,
ora tenho enrolado os pés nas beldroegas da Vargem
de Ângelo Bezerra...

Que tenho sido João maduro, menino levado da breca,
Que tenho me espairecido ao lembrar da colheita de cajá-manga
lá no Maracujá de Dona Melizinha de Seu Wandick Lopes,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais afoito ainda;
Eu, que tenho sido varzeamado aos vetentes lajedos dos verde-musgados Seixos de dona Santina,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos aos Ariscos de Virgílio Pedro,
a colher balaios de mangas aos carregos, além de cajás, jacas, jatobás, jenipapos, seriguelas, cajus e castanhas.
Eu, que tenho feito versos em relicário de poemas agrestes,
amortecendo as dores do meu coração partido, a marejar meus olhos d'água de saudades,
Eu, que tenho sofrido a angústia por estar longe da terra da inesquecível madrinha Joaninha Mulato,
Eu observo que transbordo o peito em palavras, a exorcizar os bichos encostados .

Quem me dera ouvir de um papa-jerimum a voz do agreste
Que plantasse não um roçado, não um canteiro,
mas renovasse suas esperanças;
Que contasse, não uma estória das vividas por lá,
mas acerca do relicário de São Pedro Apóstolo!
Que me arrepiasse o coração num destemido tô-fraco daqueles de guiné ou galinha d'Angola, numa afoita cantiga pela seara dos Caicos...

Mas, não, são todos astutos, se os ouço e me falam, passo a andar, correr dentro, a voar alto além das quatro-bocas,
a assanhar até mesmo os pelos da venta, sem medo da cuca esbaforida.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi mesquinho em sua varzeanidade?
Ó varzeanos, meus irmãos,
Arre, nunca fico farto dessas relíquias!
Onde é que há gente dali que não se encante por este lugar?

De fato e por direito, então não sou só eu que esbanja amor por esta terra de Ângelo Bezerra?

Poderia alguém não a ter varzeamado,
Podem ter sido distraídos - mas esquecidos nunca!
E eu, que tenho feito meus poemas, dia-após-dia, entretido em arquivos vivos de memórias,
Como posso eu falar da minha gente varzeana sem varzeamar?
Eu, que venho sido distante, mas meu coração bate mesmo acelerado,
a transbordar de saudades, que chego a ficar de olhos marejados em lusco-fuscantes lembranças
da terra dos mulungus em flores alaranjadas e das canas-caianas e curimbatórias ao Vapor de Zuquinha?

terça-feira, 30 de junho de 2015

VARZEAMAR, COMO NÃO LEMBRAR DESSE RELICÁRIO? por João Maria Ludugero

 
 
VARZEAMAR, COMO NÃO LEMBRAR DESSE RELICÁRIO?
por João Maria Ludugero

É preciso não esquecer de Varzeamar,
Lembrar do adocicado caldo-de-cana do Riacho do Mel,
Do carrego de pitombas lá do Itapacurá de dona Julieta Alves,
Dos cajus e das castanhas assadas lá dos Seixos de dona Santina,
Dos grudes de coco e goma, dos beijus e tapiocas
Lá da Nova Esperança de dona Tonha de Pepedo,
da casa-de-farinha do Vapor de Zuquinha,
dos cajás-mangas, tamarindos e pitangas do Maracujá,
das jacas, dos jenipapos, dos jatobás dos Umbus,
das Formas do Gado Bravo a correr dentro da lida,
das vertentes searas dos Gravatás e da Lagoa Comprida,
das beldroegas, dos marmeleiros e dos mulungus em flor
do paredão do açude do Calango...
É preciso não esquecer de Varzeamar,
Lembrar dos flandres de bolos pretos, raivas e carrapichos,
dos puxa-puxas, quebra-queixos, tábuas de cocadas lá da casa
de dona Zidora Paulino,
Que enchia alguidares de guloseimas
Em paçocas, torresmos, farofas de carne-seca com cebola roxa,
dos brotes, sequilhos, soldas, lambe-lambes de sonhos
em peitos-de-moça, sem esquecer das línguas-de-sogra,
dos xibius de banana e dindins de coco-queimado,
das bolachas em regalias, roscas, pães, cocorotes
brotes e bolachões feitos por Zé Epifânio
Lá na padaria de Seu Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima,
O homem do pitéu das faceiras meninas varzeanas,
Pés de vitaminas a passear pela rua grande
Atravessando a Brasiliano Coelho,
Sem medo da cuca esbaforida além da rua da matança,
De assanhar até os pelos da venta,
Sem temer a lenda da mulher que chorava
Com uma trouxa de roupa na cabeça,
Além das quatro-bocas...
É preciso não esquecer de Varzeamar,
Ao recordar do João Redondo de Seu Pedro Calixto,
Das pastorinhas de Joaquim Rosendo,
Do boi-de-reis de Mateus Joca Chico,
Das quadrilhas juninas de Seu Geraldo 'Bita Mulato' Anacleto de Souza,
Dos picadinhos suínos de dona Rosa de Antonio Ventinha,
Das manteigas-de-garrafa de dona Sinhá,
Dos queijos e coalhadas lá do sítio de Seu Tida,
Do cuscuz de milho zarolho de dona Alice de Abílio,
Do feijão-verde e das favas de dona Neda,
Do jirau de sequilhos e soldas de dona Carmozina,
Dos pastéis, doces e compotas de dona Xinene Paulino,
Mãe do Antonio Picica,
Das rezas e cura de quebrantos
de dona Ana Moita e de dona Lucila de Preta,
Mãe de Vira e de Xibimba,
Das tão excelentes parteiras Mãe Claudina e dona Carminha,
Senhoras de tantas Luzes e umbigos
Pelo vasto vão do agreste de Ângelo Bezerra,
Das prendadas costuras de dona Severina de Acácio,
Das merendas de dona Suzéu, de dona Maria Gomes, de Benedita,
Dos caldos-de-cana e bolos de Seu Biga de Ana do Rego,
Das inesquecíveis amigas Das Neves Paulino, Nininha de dona Maria Marica Fernandes, mulher de Seu Otávio Gomes de Moura, pai do Eduardo Maninho, Donos do bar das sinucas e bilhares, das vitaminas, dos frangos, garapas, Grapetes, guaranás, ovos cozidos coloridos em Q-sucos de morango e uva...
É preciso não esquecer de Varzeamar,
E pra sempre lembrar de dona Rosália Fernandes
E do Seu Cirineu Gomes do Rego,
De dona Maria Maroca,
De dona Nena Belo, do banco de roda-de-conversa
De Nina de madrinha Joaninha Mulato,
Nunca esquecer dos banhos no rio Joca,
Das peladas na Vargem, das cancelas abertas ao sítio de Zé Canindé,
Do fogo aceso lá no alpendre da casa de Zé Anjo,
Aonde a gente assava avoador, passarinhas, queijos-de-coalho
E até bundas de tanajuras, dos potes de mel-de-abelhas coletados
Por Seu Zé Miranda lá da rua do Arame de Antonio Horácio...
Faz bem lembrar dos carrinhos de rolimã de Raimundo de Nide,
Das piadas de Ramos da Viúva a abrir o sorriso dos entristecidos
E de dona Zilda Roriz a rezar com a gente a cada instante dos dias
Bem vividos na abençoada terra de São Pedro Apóstolo,
É preciso não esquecer de lembrar e ver todo esse relicário
Dos dias de ontem, ainda tão presente nos dias de hoje na vida
Do levado menino João maduro Ludugero, na tarde amena
Que ainda me nina nesse eterno recordar, dia-após-dia,
Ao recordar da Várzea dos Caicos.
Mas como esquecer aqueles possantes dias dispostos,
Os nomes da nossa gente varzeana, o som de suas vozes,
O ritmo das cantigas, os bons ares, os manjares, as estripulias
Nas quebradas de potes de quantas e tantas fantasias...
Como esquecer desse furdúncio de memórias carregadas de atos,
De ideias, de pensares, recompensas, amores e de glórias?
Como agir diferente sem abranger essas infindas memórias,
Repletas de histórias como se já fôssemos eternos,
Assim bem vigiados pelos nossos próprios olhos de cabra da peste,
Contentes conosco, pois é um Varzeamar sem fim que nos pertence.

VÁRZEA/RN, MEU CHÃO-DE-DENTRO por João Maria Ludugero

VÁRZEA/RN, MEU CHÃO-DE-DENTRO
por João Maria Ludugero

Mesmo longe de ti, varzeamo,
Sob o dom de ver teus encantos
Onde eu vejo o Vapor de Zuquinha,
Onde eu mergulho no açude do Calango...
Me convences quando esbanjas
A beleza de teus mulungus em flores alaranjadas
Ou teus verdejantes juazeiros repletos de anuns
E marmeleiros com ninhos de bem-te-vizinhos
Pelos Ariscos de Seu Virgílio Pedro,
Pelos verde-musgados Seixos de dona Santina,
pelo sacos de pitombas aos carregos
Lá no Itapacurá de dona JulietaAlves,
Lá na casa-de-farinha de tio João Pequeno,
Lá no Maracujá dos tamarindos, cocos verdes,
Pitangas, Jenipapos, jatobás e cajás-mangas,
Lá no Umbu das canas-caianas, jacas e cajus,
Lá no Gravatá dos preás e macambiras,
Lá nas Formas e na seara do Gado Bravo
Lá no Riacho do Mel de Seu Pasqualino Teixeira
Lá na renovada esperança de dona Tonha de Pepedo,
Entre grudes de goma e cocadas, beijus e tapiocas,
Sem esquecer do milho-verde e das macaxeiras
Lá no sítio de Zé Canindé
Além das coalhadas, feijão-verde, maxixes e favas
Lá na seara do Seu Tida...

Bem apanhado assim, em versos do interior,
Passo a andar, a correr dentro da lida e a voar alto,
Sem medo da cuca esbaforida.
Mas, sem carecer de ser cabotino,
Se preciso for, sou de assanhar
Até mesmo os pelos da venta, de coração partido,
A marejar meus afoitos olhos d'água transbordantes
De saudades da minha Várzea de São Pedro Apóstolo.

Então, se me esqueço, me recordas com astúcia.
Se não sei, me ensinas num átimo de segundo.
E se perco a direção além das quatro-bocas, me elevo adiante.
Vens me encontrar ao relembrar das nossas rodas-de-conversa
No banco de Nina da inesquecível madrinha Joaninha Mulato
Ou ainda perto da verdejante algarobeira da praça do Encontro
denominada Kleberval Florêncio, bem de frente ao Recanto do Luar
de Raimundo Bento, onde a gente se inteirava em conversas ao tempo
de ganhar o mundo, ternos meninos levados da breca, dispostos a brincar
bem como fazer dos sonhos acordados o alicerce desse magnífico relicário.

Várzea, tens o dom de ouvir meus versos e segredos,
Mesmo se me calo ao calor da tarde amena que ainda me nina.
E mesmo se me calo, me escutas, sem nenhum alarido.
Quero te dizer com todas as letras, com afinco,
Se pela força da distância marejo meus olhos d'água,
De ti não me ausento, ao deixar meu coração partido.
Mas, pelo poder que há na saudade, bem sei
Que voltarei de vez um dia ao chão-de-dentro dos Caicos...

VÁRZEA DE SÃO PEDRO APÓSTOLO! por João Maria Ludugero

 
 
 
 
VÁRZEA DE SÃO PEDRO APÓSTOLO!
por João Maria Ludugero

Chega-se à Várzea dos Caicos
Acendem-se vidas
Elevam-se sonhos
Onde as quatro bocas descobertas
Não se calam astutas
Partindo meu coração
Na praça do Encontro Kleberval Florêncio.
Dança o corpo e ouve-se a cantiga
E o ser mostra-se contente
A andar, a corrrer dentro, a voar alto
Se espairecendo de tanta alegria
Na festança aberta a São Pedro Apóstolo.
Anarriê junino almeja renascer, renascer
Recordo Seu Bita Mulato a animar honesta quadrilha
Dando a chance da vida renascer, e toda florescer
Em alaranjadas flores de mulungu
Em amarelo-douradas flores de jenipapo
Em auriverdes espigas de milho de canjiquinha
Sente o seu coração bater, embora partido,
Marejado de saudades,
A transbordar meus olhos d'água
Estimulando-nos a seguir pela rua Grande
A iluminar as rodas-de-conversa
Na calçada da igreja de São Pedro,
Apóstolo disposto no topo da igreja,
Sem dar as costas para a rua do Arame.
Vem queimado a fogueira em coivaras
Animando o povo varzeano que segue na lida
Que se eleva, vivendo, pelo interior do agreste potiguar.
Povo de fé, contente e animado a renovar esperanças,
Astuto a dar a chance da vida florescer, florescer!

VÁRZEA-RN, por João Maria Ludugero


VÁRZEA-RN
Autor: João Maria Ludugero.

Feito o Vapor de Zuquinha
És lindo pedaço do agreste potiguar,
Foste bela e querida seara dos Caicos,
És astuto bem-te-vizinho em cantiga,
Na algarobeira da praça do Encontro
Kleberval Florêncio ou Recanto do Luar
De Raimundo Bento desde as quatro-bocas
Ou até mesmo guiné ou galinha-d'Angola
No mais destemido tô-fraco a me assanhar
Sanhaço só a degustar formoso mamão maduro.

E, apesar do estio, contigo aprendi
A renovar esperanças desde os beijus,
Grudes e tapiocas de dona Tonha de Pepedo
Ou das coalhadas lá do sítio de Seu Tida
Ou das mandiocas e macaxeiras que Aderbal
Plantava lá no sítio de Seu Zé Canindé.
E que saudade do banho lá no açude do Calango!
A andar, a correr dentro das Formas da lida,
A voar alto sem medo da cuca esbaforida,
Do Itapacurá de Tio João Pequeno
E dos carregos de pitombas lá da seara
De dona Julieta Alves, sem esquecer do rio Joca
Do cuscuz de milho zarolho de dona Zidora Paulino
Nem da farinhada dos Seixos de dona Santina,
Dos cajás-mangas do Maracujá das pitangas
Ao Umbu dos caldos-de-canas-caianas...
Eu-papa-jerimum ou cabra-da-peste
varzeamava,
Varzeamei,
Varzeamo e
Varzeamarei...