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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CABIDES E RABIÇACAS

E dependurado em ideias me inspiro
se miro até onde a vista
do meu eu-menino alcança. 
De danadices de menino, 
o moleque aqui entende de cor; 
posso até dizer prolifera-me 
em mais ser do que ter 
sob os ângulos tangentes do ente adulto 
rente às retas onde o corpo demora, 
até atravessar o arco da velha, de súbito, 
sem cancela ou calos, com sebo nas canelas, 
a distância que em outros me desdobra. 
Ó serelepe da mulinga esse menino afoito, 
que dá rabiçacas nas horas pesadas do tempo 
e logo passa a limpo os ponteiros do relógio, 
sem descuidar de arregaçar as mangas, 
nem cós nem colarinho ali se avia. 
Cá com seus botões, cinge casas, descabido, 
arrematando estripulias, quebrando vidraças, 
arremedando pássaros e abrindo gaiolas, 
girando sóis e a roda do mundo 
e até atirando pedras na lua. 
Sem temer as convenções de compostura 
seu corpo recusa, feito menino agreste, 
a correr solto pelas capoeiras da Várzea, 
e esquece as medidas impostas 
ao homem e a sua hora. 
─ Pouca ou nenhuma serventia 
terá por preocupação, 
pois terá abolido o método e a forma 
que queira pendurá-lo num cabide, 
pois dará rasteira no quebranto, benza-Deus! 
e, teimoso, se levantará novinho em folha!

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