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domingo, 29 de maio de 2016

SÉRIE: AOS DA MINHA VÁRZEA, por João Maria Ludugero.

SÉRIE: AOS DA MINHA VÁRZEA, por João Maria Ludugero.


Careço  escrever-me pelas quatro bocas 

careço caminhar pela areia do rio Joca,calçar-me de chinelas da feira 
careço sera estrada que leva à Nova Esperança que prossegue depois do sítio de dona Tonha de Pepedo
Mas antes mesmo de chegar ao Vapor de Zuquinha ainda não terei escrito os versos dos verdejantes juazeiros senão por vós caríssimos varzeanos de um sonho por vós que não sereis esquecidos
Descambo além do rio de Nozinho.

Sinto saudades de pescar carás e jacundás 

no rio da Cruz,a idade dos landuás das aratanhas 
e das traíras pescados por dona Lucila de Preta, 
mãe de Xibimba e de Vira da rua do Arame de dona Neda.

Mas não me esqueço do tempo dessa gente que nunca reclamava da sorte,antes rezava a pedir amparo ao santo protetor São Pedro Apóstolo, padroeiro da Várzea dos Caicos, 

que nunca deu as costas para esses seres varzeanos
Nunca careci de receber o carinho dessa gente porque andei sempre sobre meus pés, mesmo que fosse de havaianas e nunca me doeu saborear farofas, torresmos, cocadas,beijus, tapiocas, paçocas e tantas vezes o mingau de leite de cabra que bem fazia e preparava a dona Alice de Abílio,sem esquecer dos picadinhos suínos 
preparados por dona Sinhá, 
nem do cuscuz e do babau 
de batata-doce da tia Joana Isabel. 

 Varzeamar
 hei-de inventar um verso que vos faça justiça, 
mas, por ora basta-me ouvir a cantiga do bem-te-vizinho 
que passo a recordar 
de toda essa gente da minha Várzea
 e que vos sonho, dia-após-dia, 
mesmo de coração partido, 
 a assanhar até os pelos da venta, 
sem medo da cuca esbaforida, 
ao viajar a cada poema que escrevo a contento,bastando-me saber que um dia aos 100 anos morrerei demasiado, mas consciente, e nunca entristecido 
por viver intensamente, 
mesmo assim longe da minha Várzea da inesquecível madrinha Joaninha Mulato, mas que permanecei sem preço, para sempre,a correr dentro pelo interior 
das acácias de Silva Florêncio.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

CILA, por João Maria Ludugero


CILA,

por João Maria Ludugero.

Ficava que ficava lotada de cansaços.
Ansiava viver do seu modo,
Mas, quando menos percebia,
Estava lá a fazer tantos serviços.
Esforçava-se a agradar os outros.
E os varzeanos?
Nunca se contentavam, é claro.
Um dia, Cila virou nuvem, além do Vapor,
Foi embora nossa Amiga Otacília Marreiro,
Grandiosa Mãe de Carlos Alberto, que ficou órfão,
E de coração partido, a chorar profundamente tamanha perda.

E Otacília, disfarçada de vento, foi morar no andar de cima,
Fugiu para atrás de outros céus,
Bem além dos Ariscos dos Marreiros.

E os outros conterrâneos, que se contentassem, ou não,
Ficaram, então, sem Cila, sozinhos.
Cila, que nunca estava farta!

Cila,que jamais arredou o pé da lida,
Cila, querida Mãe, grande e bondosa Amiga de todas as horas,
Sempre a ajudar o próximo, mesmo estando de longe,
Como que ajudasse a si própria!
Quantas e tantas saudades passadas a limpo,
Ó inesquecível e querida Amiga Otacília Marreiros!
De certo, estais em paz com Deus!!!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

VARZEANIDADE ALÉM DAS QUATRO BOCAS, por João Maria Ludugero

VARZEANIDADE ALÉM DAS QUATRO BOCAS,
por João Maria Ludugero.

Então direi:
Que a varzeanidade me anima e enaltece.
Escrevendo estou, astuto ficarei feito bem-te-vizinho,
Pois a cantiga que faço é benfazeja em tantas graças.

Singelos versos calorosamente se elevam,
Se soltam fora do açude do Calango,
Vertentes cacimbas de águas agrestes,
Ávidas goteiras a verde-musgar os Seixos em limos de saudades,
Vazando de um mundo em que há raízes de verdejantes juazeiros.

Bem que direi:
Que fico contente em compor esse relicário,
Palavras sei que me exploram o coração aberto
Nesta represa em muito que me libertam...

Nem só lodos se arrastam pelo rio Joca, nem só lamas,
Nem só mulungus em flor alaranjam a tarde do Vapor,
Cajás-mangas, jacas e tantos frutos em cachos se entrelaçam
Pelo vão da Várzea dos Caicos.

Então direi,
Euforicamente renovado em esperanças nunca mudas,
Que ainda é cedo para me conter em versos derradeiros,
Não poderei viver sem dizer tudo que me faz crescer
A ganhar o mundo, a assanhar até os pelos da venta,
Sem medo da cuca esbaforida, a contemplar a Várzea
Do inesquecível e eterno menino Kleberval Florêncio!

terça-feira, 4 de agosto de 2015

ASSANHADOS VENTOS DE AGOSTO, por João Maria Ludugero

ASSANHADOS VENTOS DE AGOSTO,
por João Maria Ludugero

E mal surge o alvorecer de um novo dia,
Logo fica soprando livre, leve e solto
Em minha janela espairecida
O vento de agosto.

O vento de agosto

A chamar para a benfazeja seara
Com seu astuto e afoito bem-te-vizinho
Aquele menino João maduro Ludugero,
Sem medo da cuca esbaforida,
Sem carecer de ser cabotino,
A assanhar até mesmo os pelos da venta!

terça-feira, 28 de julho de 2015

VARZEAMAR É UM SENTIMENTO ESPECIAL, por João Maria Ludugero

VARZEAMAR É UM SENTIMENTO ESPECIAL,
por João Maria Ludugero

Não é um vai e vem ao Vapor de Zuquinha,
Varzeamar acontece de uma vez
A andar, a correr dentro e a voar alto
Sem medo da cuca esbaforida,
Feito astuto e alegre bem-te-vizinho,
A assanhar até os pelos da venta!

Varzeamar é quando você pensa:
-onde andará meu grande amor?
Varzeamar é como um milagre
De São Pedro Apóstolo,
De sentinela no topo da igreja,
Sem dar as costas para a rua do Arame.

Varzeamar é proteger o corpo
Da força dos ventos medonhos
Varzeamar é te abraçar e aos poucos
Não esquecer do tempo do carrego das pitombas
Varzeamar é sempre que te recordar em veredas,
Sentir um calor por dentro, mesmo de longe,
Varzeamar enfim é perceber teu paiol de cores
Além das quatro-bocas, além da praça do Encontro,
Além do jasmim-manga da Escola Dom Joaquim de Almeida.

Por varzeamar contaria estrelas
Sem medo de verrugas nos joelhos
E então te daria infindos abraços
Por varzeamar cruzaria Ariscos
Só pra te ter pela vida inteira feito menino.

Por varzeamar juntaria a chuva ao estio
Por varzeamar não acenderia coivaras,
Mil vezes de novo eu te reverdeceria,
Sem a necessidade de ser cabotino.

Varzeamar é quando escrevo meu nome no alto
Além do interior dos teus doces beijos agrestes
Varzeamar é quando às vezes em sonho acordo
Além dos desejos e das estrelas cadentes
Varzeamar é quando ao te ver assim benfazeja
Acredito que em meus olhos estais sempre viva
Varzeamar é pôr minha cabeça no banco de Nina
E dormir bem no colo da inesquecível madrinha Joaninha Mulato.

Por varzeamar voaria até à estrela Dalva,
E então te daria doces acordes de sonhos
Por varzeamar daria Formas aos Seixos,
Homenageando a Gabriela Pontes pela Semana da Cultura,
Sem jamais esquecer do grande poeta Deífilo Gurgel,
Amansaria qualquer Gado Bravo, a renovar esperanças,
Ganharia o mundo além dos Gravatás e das macambiras,
Alaranjaria as flores de mulungu do Maracujá ao Umbu,
Me inteirava ao contemplar os carregos de umbu-cajá,
Me acharia ao completar a colheita de jacas, cajus, cajás-mangas
Livre, solto e levado da breca pelo Itapacurá de Tio João Pequeno

Pra te ter não só por um dia, mas pela vida inteira,
Por varzeamar juntaria toda temperança disposta
Na mais singela e bonita seara de Ângelo Bezerra.
Por varzeamar eu te daria assim minha vida arteira,
Por mil vezes de novo só por sentir que minha Várzea,
Tem profundas raízes fincadas além do chão-de-dentro

Da abençoada terra do inesquecível amigo Kleberval Florêncio.

terça-feira, 21 de julho de 2015

VÁRZEA-RN: ÁVIDAS TINTAS EM LETRAS DE TANTAS E QUANTAS SAUDADES, por João Maria Ludugero

VÁRZEA-RN: ÁVIDAS TINTAS EM LETRAS
DE TANTAS E QUANTAS SAUDADES,
por João Maria Ludugero

Dia nostálgico: diapasão. Porvir de lembranças.
Um balaio. Um caçuá de saudades a correr dentro.
Amanhecer com jasmim-manga em verde-limão.
Tarde amena. Verde-musgo pelos Seixos adentro.
Maracujá. Umbu. Gravatá. Tamarindos. Jenipapos.
Mulungus alaranjados em flor.
Juazeiros do Vapor de Zuquinha.
Macaxeiras no Sítio de Zé Canindé.
São Pedro Apóstolo de prontidão
no topo da igreja-matriz,
Sem dar as costas para a rua do arame.

Roda-de-conversa na praça do encontro.
Saudades do banco de Nina de madrinha Joaninha Mulato.
Um alguidar de farofa de carne-seca, torresmo e cebola roxa.
Uma travessa de bolo-preto, raivas, soldas, carrapichos,
munguzás, peitos-de-moça, beijus, tapiocas, puxa-puxas.
Sonhos, babas-de-moça, línguas-de-sogra, grudes de goma e coco,
quebra-queixos...

Recordações da inesquecível dona Zidora Paulino
e de toda gentetão bonita e pacata
com habite-se na seara de Ângelo Bezerra...
Seja assim dona Rosa de Antonio Ventinha,
dona Sinhá, Maria de Franco,
Dona Carmozina, Seu Biga de Ana do Rego,
Rosália Fernandes, Cirineu Gomes do Rego,
Geraldo 'Bita Anacleto' de Souza, Neda, Lucila de Preta,
Sem esquecer das regalias da padaria
de Seu Plácido 'Nenê Tomaz' de Lima
e das delícias ainda feitas com tanto esmero e temperança
por Marinam de Ivan de Lica de dona Chiquinha de Leopoldo,
pais de Tota da Rua São Pedro.

terça-feira, 14 de julho de 2015

EXTENSA VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
EXTENSA VARZEANIDADE,
por João Maria Ludugero

Não há coivara que queime minhas raízes
a raiz das minhas ideias livres e soltas
a andar, a correr dentro, a voar alto,
sem medo da cuca esbaforida ao vento.
Mas, se preciso for, escreverei poemas,
sem carecer de ser cabotino,
sou mesmo de assanhar até os pelos da venta,
porque não há morte para a varzeanidade em mim,
não há corte às asas do bem-te-vizinho...

Se ao partir meu coração agreste
morresse a luz que lhe é querida,
sem razão seria a vida varzeana,
sem razão ficaria sob o estio que seca o rio Joca,
sem razão cultivaria cajás, jacas, mangas, cajus,
sem razão haveria de florescer o mulungu
sob o encanto do destemido tô-fraco dos guinés
ou galinhas d'Angola lá no Maracujá
dos tamarindos e cajás-mangas...

Assim, nada apaga à luz que vive
a varzeamar num ávido pensamento,
porque é livre como o astuto vento
porque é livre além das quatro bocas,
porque é solta além do Vapor de Zuquinha,
porque adocica a minha paisagem, além do Riacho do Mel,
porque mergulha além do paredão do açude do Calango,
porque transborda em meus olhos d'água a saudade
advinda da Várzea da inesquecível madrinha Joaninha Mulato!