Quer saber quem sou eu,
Ora, pois me apresento, sem galhos.
Eu me chamo curió.
Sou um pássaro cantador
Aprendi a cantar desde filhote
Aprendi a cantar desde filhote
Só de escutar o assobio do meu pai,
Que tinha um canto mais que perfeito.
Meu velho sempre me dizia:
Que tinha um canto mais que perfeito.
Meu velho sempre me dizia:
Filho, serás um excelente cantor ou um imitador!
Só tu poderás escolher entre preservar
Só tu poderás escolher entre preservar
A pureza nata de tuas notas musicais ou
Facilmente aprenderes a copiar
Facilmente aprenderes a copiar
O canto de pássaros fora da tua laia.
Poderás aprender depois de velho,
Poderás aprender depois de velho,
Se fores cabeça-mole, ou seja,
Um curió que vai com os outros,
Um curió que vai com os outros,
Que ao escutar um canto diferente do seu, troca de canto.
Eu preservo minha estirpe, logro mais êxitos,
Apesar de criado solto na vida,
Eu preservo minha estirpe, logro mais êxitos,
Apesar de criado solto na vida,
No meio do mato verde perto dos currais da Várzea.
Foi naquelas redondezas que conheci
Meu compadre João-de-barro, pássaro trabalhador.
Foi naquelas redondezas que conheci
Meu compadre João-de-barro, pássaro trabalhador.
Desculpe-me, mas fui autorizado a abrir o bico e lhes contar
Essa que não é mais uma mera história de passarinho.
É baseada em fatos reais. Acredite.
Eu, curioso que sou, fui testemunha ocular
Essa que não é mais uma mera história de passarinho.
É baseada em fatos reais. Acredite.
Eu, curioso que sou, fui testemunha ocular
Dessa historinha que passo a desfiar.
Meu amigo João, arquiteto do barro,
Meu amigo João, arquiteto do barro,
Com esmero montava seu ninho, sua casa.
Em postura altiva, metia a mão na massa, com garra
Construindo sua morada
Em postura altiva, metia a mão na massa, com garra
Construindo sua morada
No tronco de um mulungu em flor,
Ajudado de perto pela sua amada Maria-do-barro,
Fêmea habilidosa nos amassos
Ajudado de perto pela sua amada Maria-do-barro,
Fêmea habilidosa nos amassos
E na oleira empreitada.
Cúmplices, eles viviam de amores
Cúmplices, eles viviam de amores
Aos arredores do ninho,
Tremulando as asas, passavam os dias
Tremulando as asas, passavam os dias
A cantar estridente em curioso dueto,
Enquanto carregavam barro.
Enquanto carregavam barro.
Pareciam satisfeitos. Tudo às mil maravilhas.
De tão parceiros, parecia que ali reinava a felicidade.
De tão parceiros, parecia que ali reinava a felicidade.
Mas a vida dos outros é a vida dos outros.
E a grama do bem-te-vizinho é sempre mais verde.
Até que um dia... chegou o infortúnio!
Nas idas e vindas da barranceira do rio,
Maria, faceira, deu trela ao curió Bicudo,
E a grama do bem-te-vizinho é sempre mais verde.
Até que um dia... chegou o infortúnio!
Nas idas e vindas da barranceira do rio,
Maria, faceira, deu trela ao curió Bicudo,
Meu primo de longe, que aprendeu a cantarolar
Imitando a vistosa 'passarinha' alheia.
E ela semitonta, assanhou-se toda,
E ela semitonta, assanhou-se toda,
Arriando as asas num segundo encontro.
Afoita entregou-se ao estranho,
De lado, debanda sob às artimanhas cruzadas
Daqueloutro bico, ao ser decantada, admirada, possuída.
Foi ofuscada pelo laço passarinheiro
Daquele forasteiro que lhe prometera
Castelos, mundo e fundos, eira e beira.
Inclusive, dominada, logo despejou João
Do seu ninho ainda em construção. João perdeu tudo.
De lado, debanda sob às artimanhas cruzadas
Daqueloutro bico, ao ser decantada, admirada, possuída.
Foi ofuscada pelo laço passarinheiro
Daquele forasteiro que lhe prometera
Castelos, mundo e fundos, eira e beira.
Inclusive, dominada, logo despejou João
Do seu ninho ainda em construção. João perdeu tudo.
Tudo o que conquistara a duras penas.
Desiludido, maior abandonado, ele se tocou.
Abriu mão de sua pretendida, não mais valia a pena!
Ela era muito inconstante, arrastava a asa
Pra qualquer bicudo que aparecesse jurando amores.
Enquanto João se mantinha fiel,
Desiludido, maior abandonado, ele se tocou.
Abriu mão de sua pretendida, não mais valia a pena!
Ela era muito inconstante, arrastava a asa
Pra qualquer bicudo que aparecesse jurando amores.
Enquanto João se mantinha fiel,
Até que acontecesse um próximo enrabicho.
Mas, entre mortos e feridos, cansou de chorar
As pedrinhas da moela. O tempo tritura quase tudo.
E João, artesão do barro, sábio detentor de amor próprio,
Não fechou o bico à obra. Decidiu levantar nova morada.
E, só depois, é que partiu
Para achar sua outra nova costela.
E, de bolas em rebolos, levou o barro pra frente,
Deu forma a novo empreendimento,
Dividindo-o em dois compartimentos,
Com a porta de acesso ao seu interior
Voltada p'ro norte, à prova de chuva e vento,
Onde ele agora adentra sem ter de abaixar a cabeça,
Acompanhado de esposa e filhotes, ora sobrevoa por cima.
Mas já argamassou muita poeira, lama e até esterco
Só pra fazer barro na lida.
Ah, da ex-Joaninha-do-barro,
Digo Maria, nunca mais se soube.
Minto. Conta-se que foi vista, sim,
Detida pela sorte a fazer fita, alquebrada,
Mas, entre mortos e feridos, cansou de chorar
As pedrinhas da moela. O tempo tritura quase tudo.
E João, artesão do barro, sábio detentor de amor próprio,
Não fechou o bico à obra. Decidiu levantar nova morada.
E, só depois, é que partiu
Para achar sua outra nova costela.
E, de bolas em rebolos, levou o barro pra frente,
Deu forma a novo empreendimento,
Dividindo-o em dois compartimentos,
Com a porta de acesso ao seu interior
Voltada p'ro norte, à prova de chuva e vento,
Onde ele agora adentra sem ter de abaixar a cabeça,
Acompanhado de esposa e filhotes, ora sobrevoa por cima.
Mas já argamassou muita poeira, lama e até esterco
Só pra fazer barro na lida.
Ah, da ex-Joaninha-do-barro,
Digo Maria, nunca mais se soube.
Minto. Conta-se que foi vista, sim,
Detida pela sorte a fazer fita, alquebrada,
Num rodízio, jogada num canto, de bico calado,
Sem casa nem comida, de olhar perdido,
Quiçá num longe horizonte demolido,
De fogo apagado, curiosamente penalizada,
Com o pires na mão a chorar as minhocas perdidas
E a pigorar os insetos de troncos de árvores,
E até pousando recostada nos paus dos currais,
Após ter sido largada por mais um bicudo de fama
Ao amparo da sorte, num poste de iluminação pública
Onde a lâmpada sem energia não acende mais.
Sem casa nem comida, de olhar perdido,
Quiçá num longe horizonte demolido,
De fogo apagado, curiosamente penalizada,
Com o pires na mão a chorar as minhocas perdidas
E a pigorar os insetos de troncos de árvores,
E até pousando recostada nos paus dos currais,
Após ter sido largada por mais um bicudo de fama
Ao amparo da sorte, num poste de iluminação pública
Onde a lâmpada sem energia não acende mais.
Amigo passarinho, amei teu poema.
ResponderExcluirContinue a voar nestas letras fascinantes aqui e lá no Jardim.
Bjussss
Sil
João, grande poeta, menino-passarinho,
ResponderExcluirJoão do barro, da lida, poeta da vida,
das letras benditas, és mesmo um ser abençoado,
um filho de Deus, com asas seguras, teu voar é alto, tuas palavras me curam as dores da alma.
Canta pra nós desatar, enlaça de encantos nosso efêmero penar, ó menino que sabe engenhar dando vida, cor e sentido ao barro que aí está... Lindo poema, fabulosíssimo! Amei...demais de ponta a ponta, sem deixar de me prender até o finzinho. És único e bonito. Abraço carinhoso,
Moema Penedo de Alcântara Morgado
Escritora, metida a fazer poesia.
Brasília-DF (UnB).
Tenho-te inveja! Parabéns pelo talento e sensibilidade.
ResponderExcluirAbraço
Menino do céu!
ResponderExcluirTens um grandioso talento...de cara já conheci...pq quem chega até a mim não é um qualquer da vida,Deus sempre colocou no meu caminhar pessoas q eu pudesse trocar informações q sempre desejo...Nestas comparações que fazes nas palavras que vira mais uma crônica,não posso fazer comentário agora pq é de uma profundeza...mas estou ai nas tuas mãos espalmando com parabéns...daqui um ano cantamos parabéns juntos,ok!
Bjs para aquecer teu domingo!
Sou tua filha mais nova no teu blog...me trata com carinho tá,eu preciso...e muito...
ResponderExcluirExtraordinario Poeta.
ResponderExcluirFiquei aqui pensando como um homem ainda valoriza tanto a natureza neste tempo.
Olha amigo eu nem viveria sem o mar e nem os pássaros. Eu acordo com seu canto e sinto vontade de voar mais alto. Porque eles cantam com vaidade sabendo que cada um deles são belos por natureza.
Aqui é maravilhoso,tem fogo a lenha tem rios é pura natureza .
Se houvesse outra vida eu gostaria de ser a ave mais colorida e cantadora do meu reino.
Obrigada amigo por gostar de minhas poesia porque você também é um verdadeiro poeta onde as letras não tem limites.
Te sigo e sim voltarei pois aqui eu me deleito nestes campos e orquestras de pássaros.
Venho-te seguir tambem, como retribuição e como DEVER, porque teu blog é uma grande maravilhosa das ilhas blogosfericas!
ResponderExcluirAdorei o teu talento, otima escrita, PARABENS!
Ja estou te seguindo Ludougero. Passar bem, e otima semana!
http://nostalgico-allstar-vermelho.blogspot.com
Que coisa boa chegar aqui neste canto! Um oásis no deserto. Sinto o cheiro das flores pois você deixa pegadas que perfumam o jardim... Belo.Sinto saudades daqui e de vc lá no meu blog. Apareça meu amigo!
ResponderExcluirHOLA AMIGO, GRACIAS POR VISITARME.
ResponderExcluirLASTIMA QUE NOS SEPARA EL IDIOMA.
NO SÉ TRADUCIR AL CASTELLANO, LO SIENTO MUCHO.
TE DEJO UN CARIÑO ENORME Y TE AGRADEZCO TUS BONITAS PALABRAS EN MI BLOG.
BESITOS
Saudades da terra molhada, nos currais já não há mais gado, a algaroba foi cortada, os sonhos porém sobrevivem, na lembrança que insiste em vir à tona na amálgama de detalhes descritos em sua poesia... Seja Bem vindo! Poeta da casa de taipa, da estrada batida de barro e poeira, estrada cercada por flores de letras raras, lugar de encontro e desencontro dos amigos que teimam em voltar no tempo. Abraço!
ResponderExcluirhttp://jufrantomaz.blogspot.com/
Olá João! Conto magnífico; parabéns! Somos todos pássaros em busca - do autoencontro.
ResponderExcluirBoa semana,abç!
Oi Joao, é uma história muito terna de amor e esperança. É sempre mais verde no quintal do vizinho, eh!... muito bom.
ResponderExcluirParabéns, você é um grande poeta. Beijos.
HOLA, JOAO. SI NO TE IMPORTA, VOY A SENTARME EN LA PLATEA DE TUS SEGUIDORES PARA PODER VER MÁS DE CERCA LO Q’ TIENES PARA DECIR ..
ResponderExcluirP.D. EL PRÓXIMO 31 DE OCTUBRE TE ESPERO EN “EL HECHIZO” ;)
SALUDOS..
E você que não é bobo nem nada, muda a história do João, pois agora existe a Maria da Penha e aí dele trancafiar a menina em seu casarão!
ResponderExcluirAdorei, camarada!
Um abraço
Hola Juan... Saludos.
ResponderExcluirEs un placer para mi contar con tu presencia en mi blog. Muy agradecido.
En este momento me encuent bajo examenes en la universidad por lo tanto te digo que una vez terminados te prometo que te seguirè con màs atenciòn.
Un fuerte abrazo y Dio te bendiga.
Fra Rodolfo de Jesùs O.Carm
Joao, siento no escribir en portugués pero he leído tu poema y me ha encantado, tanto en lo que dice, como lo cuentas y en la forma. Luminoso y lleno de imágenes.
ResponderExcluirUn abrazo
Hummm, adorei, oxalá tivéssemos sempre a postura do João de barro, que de barro somos todos, falta-nos a arte de sermos assim perseverantes deixar o barro amassado pra trás. Seguir em frente abrindo outras portas pra quem quer entrar e ficar. Belíssimo. Coitadinha da D. Maria, mal de fêmea iludida, não a culpo...apenas tenho dó..
ResponderExcluirAdorei..
Bjokas
Cá estou a seguir-te, seguindo e perseguindo leituras que enchem o coração.
ResponderExcluirAbs
Un magnífico poema repleto de sensibilidad. Muy bueno. Saludos.
ResponderExcluirHa sido un placer leerte, gracias por tu visita que me ha permitido conocerte.
ResponderExcluirSiento no poder comentarte en tu lengua, la entiendo lo suficiente para leer pero no sé escribirlo y no quiero recurrir a la facilidad y poca fiabilidad de un traductor on line.
Besos
So sweet and tender poem.
ResponderExcluirlove it!
thanks for sharing this gem.
wishing a great week ahead!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJoão, fico feliz que tenha encontrado meu blog, mais ainda depois que pude ler seus poemas. Parabéns pelo lindo trabalho!! Um abraço,
ResponderExcluirLetícia Myrrha
Muito bacana o seu blog, João. Já o estou seguindo.
ResponderExcluirAbração e obrigado pela visita. Volte sempre.
O Falcão Maltês
Lindo poema, clima de tragédia no ar até o desfecho; um traço de "crime e castigo" quanto ao destino da maria, porém sem crimes passionais, como o do joão de barro que fecha a entrada da casa com a maria dentro.
ResponderExcluirParabéns.
Oi João, que saudades de ler suas poesias. Não estava conseguindo entrar no meu blog, consegui entrar ontem, mas mesmo assim, estou tendo dificuldade na hora de postar, agradecer, e também de comentar em outros blogs.
ResponderExcluirQuanto essa sua poesia... linda, linda, linda!!!
Parabéns grande poeta, tenha um ótimo dia!!!
Belo poema... Suas palavras ganha vida em cada versos derramado com emoção de um poeta.Somos todos passarinho voando em busca da felicidades Gostei muito e vou te seguir. Li alguns poemas e gostei bastante. Vou te seguir com prazer. Um Abraço!
ResponderExcluir